Ainda é madrugada quando, aos poucos, vão chegando os romeiros à
Avenida Chico Campos, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Dores, para
iniciar o primeiro ato de fé do dia. Assim começa a Via-Sacra,
exercício da piedade popular que ganha significado todo especial em
Canindé.
Percorrer os últimos momentos da vida de Jesus é quase que
obrigatório para todo aquele que vem em romaria a Canindé. Às 5h da
manhã todos já estão apostos e, com ajuda dos frades, inicia-se a
caminhada que percorre a avenida até a Igreja de Cristo Rei, também
conhecida como Igreja do Monte.
As paradas das 14 estações são marcadas por monumentos colocados ao
longo da via que retratam os sofrimentos de Cristo desde sua condenação
até sua morte, sepultamento e Ressurreição.
Não é raro ver entre os que percorrem este caminho a celebração de um
rito particular que nasceu do próprio povo: muitos romeiros e romeiras
levando consigo, à cabeça, uma pedra.
A cada parada trocam de pedra, deixando à que traziam na imagem do monumento referente àquela estação e tomando outra, num gesto de partilha e solidariedade com os sofrimentos dos demais irmãos.
Um retrato da fé em Canindé
De fato, em Canindé, se percebe aquilo que o tema da festa deste ano
bem retrata: São Francisco é alívio na dor e no sofrimento. Uma das
senhoras que carregava a pedra sobre a cabeça agradecia por ter sido
curada de sua dor de cabeça; outra pedia a cura de sua mãe que
encontrava-se gravemente enferma; já dona Geraldina via esta como a
oportunidade de associar seus sofrimentos aos sofrimentos de Cristo,
como fez São Francisco. Ela rezava para suportar o peso de seus desafios
familiares e a pedra representava este peso, o peso da cruz de Cristo.
Momento de oração
Ao final da caminhada, chega-se à Igreja do Monte, dedicada a Cristo
Rei. O dia já está claro, a luz venceu a escuridão das trevas. É momento
de rezar a última estação, que canta a vitória de Cristo sobre os
sofrimentos e a morte. O sentimento que invade o coração dos romeiros é
também de vitória, de associar suas pequenas conquistas, à Ressurreição
de Jesus, ao triunfo da vida.
Espaço sagrado para os romeiros
No monte se agradecer ao Senhor que é alívio e conforto na dor.
Rende-se Ação de Graças, celebrando na Eucaristia as pequenas lutas e
vitórias do povo, os “milagres” de Deus na vida de um. Ali também cada
romeiro refaz o seu compromisso de fé e esperança diante do sofrimento,
diante da cruz que, como discípulos de Jesus, somos chamados a tomar a
cada dia e carregá-la (Lucas 9, 23), mas que, com a força deste mesmo
Mestre, torna-se “julgo suave e peso leve” (Mt 11, 30).
Frei Marcos Carvalho, ofm
Fonte: Equipe de Comunicação do Site Santuário. Colaboração: Frei Marcos Carvalho, OFM.
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